sexta-feira, 3 de junho de 2011

A pedido do leitor

O Benfica e o Jesus.
(vai utilizar-se futebolês)

Eu sou do Benfica. É daquelas coisas. Gosto de bola, mas se não for o Benfica é melhor que joguem muito bem senão tenho mais que fazer. O problema é que as pessoas do Benfica nunca têm capacidade para o fazer. Não entendem o que é aquilo. Acredito que façam, não propriamente o seu melhor mas, aquilo que acham que é melhor para o Benfica. Isso nem sempre chega, no entanto os do Benfica não conseguem deixar de sentir gratidão por aqueles que, a expensas próprias, retiraram o Benfica da lama e, a pouco e pouco, a lama do Benfica. O meu problema não é com esses.

O Jesus.
O Benfica foi Campeão na primeira época de Jesus. Uma boa equipa que chegou a fazer jogos muito bons. Mérito da equipa e do treinador. Tudo o que se disser aqui é merito do treinador e da equipa ou, merda pelo treinador e pela equipa.

Se bem se lembram o onze base era: Quim; Maxi; Luisão; David Luiz; F. Coentrão; J. Garcia; Ramires; Aimar; Di Maria; Saviola; Cardozo. Ora esta equipa era muito forte essencialmente por 3 razões, a saber: (1) Defesa muito forte em todas as fases; (2) Bolas Paradas, defensivas e ofensivas; (3) Transição defesa - ataque, quer pelo passe em profundidade, quer em progressão com bola.

1 - Centrais fortes e altos, com boa capacidade posicional, um deles rápido outro a fazer zona, quando defendem pelo meio. Laterias muito rápidos e "intensos" (adjectivo futeboleiro intraduzível), muito fortes no apoio ao ataque e na marcação à zona à frente da grande área. Uma retroescavadora com um motor da (marca automóvel à escolha, daquelas caras), a fazer o 3 no meio, ou a comer o portador da bola, J. Garcia. O Ramires, que começava a defender na meia direita, vinha ao meio e acabava a apoiar o lateral para poder fechar ao meio.
2 - 4 torres - Luisão, D. Luiz, J. Garcia, Cardozo. Aimar e Di Maria a meter bolas, às vezes o Carlos Martins. Defesa à zona à saída da pequena área com o Luisão ou o Cardozo à primeira bola.
3 - O princípio está explicado com a retroescavadora, falta só acrescentar a certeza no passe curto. Agora vamos dividir isto.
3.1 - A recuperação.
Feita pela defesa - passam a bola ao J. Garcia para sair; metem na lateral (opção preferencial); estoiram a ver se o Cardozo agarra; tentam meter (mais difícil) directo no Aimar ou no Ramires.
Se for no meio campo - O Garcia mete curto. Para o Ramires, para o Aimar ou para um dos laterais.
O Ramires primeiro progride, come metros. Depois mete em profundidade no Saviola ou procura o passe simples para o Aimar.
Os laterais correm em frente até puder. Se for o Coentrão isso pode acabar em golo ou cruzamento.

3.2 - A Construção
A ideia é simples. Procurar o Di Maria. Se não der, procurar o Aimar ou o Saviola meter lá a bola.
Considerando que é o lateral que leva a bola - sempre na linha pelo menos até ao meio campo. A partir daí tem duas hipóteses. Continuar a acelarar pela linha, ou vir para o meio fazer jogo.
Se a bola vai pelo meio, o que o Ramires faz está ali em cima. O Aimar recua, e depois, com a bola nos pés, abre na esquerda, ou progride para combinar com o Saviola. E aqui reside o segredo do sucesso, porque é no meio do meio campo que se ganha e perde. Quando o Aimar passa a bola para a esquerda, a defesa contrária cagava-se. Porque aparecia o Di Maria a correr na diagonal e ninguém sabia o que lhe passava pela cabeça. E quando olhavam para a frente viam o Cardozo e só depois, pelo rabo do olho, é que viam o Saviola a vir devagarinho da direita. E depois aparecia o Aimar. Vinha lá cruzamento, ou remate, ou canto, ou entrada na área em progressão, ou nada. Mas assustava. Quando o Ramires subia com bola, fazia uma de três. Ou ia com bola pela meia direita até o deixarem, depois rematava ou tentava dar ao Aimar/Cardozo. Metia largo na direita para o Saviola. Dava ao Aimar e corria a abrir na direita, para o Saviola recuar e combinar com o Aimar.
3.3 - A concretização
Era uma equipa que rematava de todo o lado porque, da maneira supra descrita, tinha facilidade em fazer chegar a bola à grande área adversária rapidamente.

O que resulta disto é que o Benfica, apesar de jogar com 2 pontas de lança e 4 médios, não jogava em 4-4-2. A atacar talvez. Mas só a atacar, não quando ia atacar e quando vinha defender. Porque o Ramires fazia muito. A defender, fechava ao meio e depois corria para a ala a ajudar o Maxi. A atacar está aí em cima. O que permitia defender com 3 médios ao meio. E o Saviola a correr mais à direita.
O Di Maria. Epá, era o motor do ataque. Fazia muito. Muitos cruzamentos, muita progressão com bola, muitas assistências, golos.

E era isto. O grande mérito do Jesus foi não inventar.
Fomos Campeões. Saiu o Di Maria e o Ramires.

Apesar de ser óbvio que a falta de Di Maria ia ser sentida, a falta do Ramires foi fatal. Está já explicado porquê. Basicamente era o jogador que permitia que a equipa jogasse permanentemente com 2 sistemas tácticos.
O Benfica não podia substituir o Di Maria. Pela razão mais simples. O Di Maria demorou 3 anos para se fazer no Benfica. 3 anos para atingir o nível que lhe permitiu ser determinante. Mas podia substituir quase tudo o que o Di Maria dava à equipa, de outra forma, com outro jogador.
O Benfica podia substituir o Ramires. Para aquela posição e a fazer aquilo, o Benfica podia ter substituído o Ramires. e aqui o Jesus tem de bater o pé. Quero o Wesley. Acabou. Quero o Wesley. Epá Jesus, não dá para ir buscar o Wesley. Foda-se quero outro. Quero o Jucilei. Senão quero o Defour. Decidam-se. Dava para ir buscar qualquer um destes.

Ainda assim vamos considerar que era impossível ir buscar um daqueles, ou outro semelhante. Oh Jesus foda-se, vais insistir na táctica? Mesmo sem o Ramires? E quem joga? É que se queres insistir metes aí o Ruben Amorim. Mas desde o princípio.

E é isso. O Benfica deixou de ter o jogador que lhe garantia o equilíbrio estrutural e nas transições. Não foi buscar outro nem pôs lá a melhor hipótese do plantel.

E Jesus insistiu na táctica. Com os resultados conhecidos. Já que, tal como descrito, o Di Maria, ainda que insubstituível directamente, dá para compensar com outro jogador. Não faz as mesmas coisas mas apresenta resultados semelhantes. Ninguém apresenta os resultados do Ramires. E Jesus insistiu na táctica. Com os resultados conhecidos. Agora, vamos analisar o plantel, não propriamente em qualidade de jogadores individualmente considerados, mas em termos da relação equilíbrio/qualidade.

3 Guarda Redes de valor semelhante. Nenhum apto a ser titular. Mais um, de valor semelhante, ou inferior, já contratado.
2 laterais direito - um bom, outro que não tem qualidade para estar no plantel.
3 laterais esquerdo - um bom, um que não sabemos bem, e outro que até as cadeiras do estádio irrita.
2 trincos - um bom o outro não serve para o plantel.
2 médios centro - Um capaz do melhor e do pior, outro bom mas lesionado.
2 médios ofensivos - Um bom mas meio acabado, outro que não tem lugar no plantel.
2 extremos esquerdos - Um bom, outro ninguém sabe, mas não me parece.
1 extremo direito - Bom mas emprestado.
6 pontas de lança - 3 bons, 1 histórico,1 promessa falhada, 1 que ninguém percebe.

É esta a herança que Jesus deixa. Foda-se.

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